Quem publicou este livro não tem amor ao próximo. O escritor ameaçou cegar um pastor e foi proibido de entrar em igrejas. No ano passado foi processado pelo Deputado Maciel e tem mania de perseguir lojistas. Um vizinho denunciou que viu o autor conversando com um morto. Quem lê este livro, começa a repetir frases.
O autor não é afetado, nem conhece a palavra blasé, isso prova que não é escritor de ofício. Sua mãe confirmou que ele tem problema com mulher gorda, e desde pequeno, tem mania de encarar o sapato das pessoas. Os contos são bons, mas nos forçam a falar com nós mesmos. Depois da fraca venda dessa edição, o autor foi gravado xingando as pessoas de canalhas e dizendo que nunca, nunca terá uma filha. Um leitor foi capturado na madrugada deixando dinheiro escapar de suas mãos. Quem lê este livro, começa a repetir frases.
Esse livro toma sua mocidade, foi escrito com muito café, em cada palavra só a certeza de não querer te vender nada além de tudo que está escrito. Estes contos te fazem sentir culpado, por uma assassinato que não cometeu, desista enquanto é tempo. Quem lê este livro, começa a repetir frases.
A estreia como contista de Wander Antunes, autor de Zózimo Barbosa – cujos quadrinhos foram adaptados na série Cidade Proibida –, é de deixar a certeza de que finalmente algo muito interessante está surgindo na literatura brasileira nesse começo de século. E o que se lê nas páginas a seguir de causar múltiplas sensações no leitor. Primeiro, de perturbação e de taquicardia, pela abordagem temática escolhida por ele. Numa sequência interminável, quase descontrolada, de extrema violência, ele passeia com impressionante desenvoltura narrativa entre a vida e a morte. Em todas as histórias, alguém vai morrer e alguém vai viver.
Mas isso pouco importa. Na melhor tradição entre o realismo fantástico latino-americano, o cordel secular nordestino e as baladas de Zé Ramalho com a desolação tórrida, quase australiana, do Mato Grosso – estado onde esse goiano passou a maior parte de sua vida e conheceu de perto as mazelas de um mundo esquecido por Deus –, sua prosa é tão impactante quanto atravessar o sertão nordestino sem uma gota de água na moringa. E, assim, ele faz uma estreia grandiosa, que promete abrir uma vaga para si no melhor que há na ficção brasileira.