A crise do novo coronavírus foi, em muitos
aspectos, sem precedentes.
Não apenas pela rapidez com que uma doença
foi capaz de se alastrar em escala planetária —
anunciando um futuro temerário para a época
dos fluxos globais —, mas sobretudo por conta
das reações que suscitou. Assistimos a um bloqueio
geral da economia mundial e à imposição
de medidas de confinamento populacional
em quase todo o planeta. Temendo por sua
sobrevivência, o capitalismo global colocou-se
em quarentena.
Mas os acontecimentos atuais só podem ser
compreendidos se inserirmos a “crise do
vírus” no panorama mais amplo do processo
de crise fundamental do capitalismo, sistema
que agora se confronta com seus limites
históricos, tanto internos (a desvalorização do
valor) quanto externos (a ameaça de colapso
ambiental).
A quarentena autoimposta do capitalismo foi,
para este, um mal necessário para continuar
existindo. Mas esse remédio amargo pode ter
um perigoso efeito colateral, tendo aumentado
exponencialmente a montanha de dívidas
impagáveis que ameaça desabar a qualquer
instante. A avalanche nos arrastará, em sua
queda abrupta? Ou teremos aprendido algo
com o breve pause do sujeito automático?