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Vazio

Afastar-Se para Perto: Ficção-Vida

Marcelo Ariel
R$ 54,00
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Afastar-se para perto: ficção-vida é uma espécie de meteoro inquieto que ronda incansável por esta galáxia da linguagem em uma aventura arriscada de experimentação dos limites: furar fronteiras e abrir litorais. Marcelo Ariel, nosso cometa negro, imagem que ele evoca no livro, nos oferece com seus escritos uma errância com método. Este livro nos mostra a radicalidade do que é ser um leitor. Ler como um convite a sideração, ler para acionar o estranho que constitui a todos, ler como um empuxo ao sonho já que o texto pulsa sempre em acordes dissonantes. São muitos os mapas de viagem dos inúmeros textos e autores que vêm conversar com ele e, em muitos momentos, lembrei de um poema de Rainer Maria Rilke, O leitor. Mais precisamente do fragmento: “... crianças que brincam sozinhas e súbito descobrem algo a esmo; mas o rosto, refeito em suas linhas, nunca mais será o mesmo.” Marcelo expande um pensamento sobre o que é o corpo da escrita. Ele pensa o corpo dentro de uma lógica de descentramento do mundo e ativa com precisão os espaços do periférico, nos mostrando que é nas margens que deveríamos pensar o centro, dissolvendo assim as lógicas do poder que instituem com violência as hierarquias de valor. Em determinado momento escreve que “no lugar do centro poderíamos cultivar o vazio pragmático das insônias.” Assim, insones, podemos perceber um pouco mais os contornos da noite. Que a noite nos acorde, enquanto ainda é tempo, pois é impossível dormir com estes desequilíbrios do mundo. Este livro nos joga na cara, com força e delicadeza, o obscuro que nos habita e que tantas vezes recusamos ver. Como escreveu Gilles Deleuze, “sei que tenho um corpo porque há o obscuro em mim”. O fato do livro se abrir com uma dedicatória à criança que tantas vezes guardamos sufocada dentro de nós já indica a topologia moebiana do título que escolheu para estes escritos. Afastar-se para perto dissolve um pensamento raso sobre o que entendemos por espaço. Neste ponto, evocar Milton Santos é fundamental. Ele lembra que não podemos pensar o conceito de espaço sem pensarmos nos sistemas de ações, portanto, faz entrar em cena os atos que redesenham o contorno do mundo. Esta é a geografia inquieta que ainda vamos ter que acionar nas cartografias do mundo. Temos nas mãos um livro que respira ofegante pois os textos nos levam para muitos lugares em uma associação livre que lembra muito o fluxo onírico. Portanto, precisamos da delicadeza de nos aproximar com calma e auscultar o coração utóp