O livro Louvor dos Orixás do autor Ordep Serra recentemente publicado pela Odysseus Editora, traz toda pujança da poesia dos orixás, os assim chamados orikis. Os orikis são uma forma de cântico em louvor aos deuses do povo ioruba, geralmente declamados com o acompanhamento de tambores, usado nas liturgias do candomblé para revelar os atributos ou contar os feitos de um orixá, de um antepassado, de uma família ou cidade.
No entanto, nosso autor ao invés de traduzir fielmente as poesias cantadas no terreiro que foram registradas pelos estudiosos, teve o impulso de recriar os orikis à partir de sua experiência pessoal e reverência sagrada pelo culto dos orixás na Bahia. Ordep bebe da mais pura fonte para realizar seu trabalho audacioso. O resultado é uma verdadeira transcriação poética que traz o sopro fresco dosorixás. Na lógica de “quem conta um conto aumenta um ponto”, isto é, parte da prática oral dessa forma poética mitológica, Ordep em verdade, realiza o desejo de criação dos próprios deuses. Como nos confessa nosso autor em tom de revelação mística: “Sinto sua presença [dos orixás] tanto à minha volta como em mim mesmo, na profundeza onde não sou mais eu.”
O trabalho também conta com uma valiosa introdução à teologia dos orixás, de suma importância para entender a beleza e profundidade da cultura religiosa negra, parte da essência de nosso país. A Odysseus Editora busca publicar obras que dialoguem com a mitologia e filosofia helênica, e nesse sentido, o livro Louvor dos Orixás nos abre essa possibilidade de intercâmbio entre a mitologia grega e a africana-brasileira. A riqueza das narrativas dos orixás é parte fundante de nosso povo que deve ser legitimada e a Odysseus tem o orgulho de participar desse processo sócio-cultural. Para realizar esse trabalho ninguém melhor que Ordep Serra, helenista e estudioso de ambas as culturas.