Os contos de Secreções, excreções e desatinos tratam de aspectos biológicos e anatômicos do homem, devolvendo-o a sua constituição animal. Em contos concisos e brutais, Rubem Fonseca mostra que sempre há algo que vai além dos aspectos físicos.“Uma visão mais clara e desinibida do indivíduo como criatura material.” Com esta frase, o crítico Boris Schnaiderman sintetizou a principal característica de Secreções, excreções e desatinos, publicado em 2001. Para o crítico, o livro – ao mesmo tempo que mantinha elos com contos já clássicos do escritor, como “Madona”, de A coleira do cão – mostrava como Rubem Fonseca, então com dezessete livros publicados, conseguia mais uma vez renovar sua literatura. Nas palavras de outro crítico, José Castello, Fonseca levava a literatura para “aquelas zonas de privacidade que as palavras parecem não estar preparadas para tocar”.
Escritos durante uma das fases mais criativas do autor – entre 1992 e 2006, foram doze livros –, os contos de Secreções, excreções e desatinos tratam de aspectos biológicos e anatômicos do homem, devolvendo-o, em certa medida, a sua constituição animal. Mas, fiel a tudo que é humano, Rubem Fonseca mostra que sempre há algo que vai além dos aspectos físicos, como o estigma cultural (no conto “O corcunda e a Vênus de Botticelli”), a vontade de controlar o destino (em “Copromancia”, sobre a possibilidade de adivinhar o futuro por meio das fezes), os limites do desejo (em “A natureza, em oposição à graça”), ou mesmo o amor (em “O estuprador”). Conciso, muitas vezes brutal, nos 14 contos deste livro Rubem Fonseca demonstra que a principal força de sua literatura é nunca se acomodar.
Sumário:7 / Copromancia21 / Coincidências33 / Agora você (ou José e seus irmãos)43 / A natureza, em oposição à graça57 / O estuprador63 / Belos dentes e bom coração71 / Beijinhos no rosto79 / Aroma cactáceo91 / Mulheres e homens apaixonados109 / A entrega115 / Mecanismos de defesa123 / Encontros e desencontros133 / O corcunda e a Vênus de Botticelli161 / Vida167 / Lições de anatomia (Sérgio Augusto)173 / Rubem Fonseca devassa a condição humana(José Castello)179 / O autor